sexta-feira, 4 de maio de 2012

(conto) Sacrifícios - Parte 1/2

                   Era a manhã de sábado mais deprimente que Hanna já havia visto. O vidro da janela roubava as lágrimas da chuva que parecia não ter fim. Por muitos anos, sua mente continuava exatamente assim: nublada, instável e confusa. Segurando uma xícara de café fumegante, ela relembrava aqueles acontecimentos dolorosos  que haviam enchido sua alma de dor, amargura e rancor.
                  O mundo de Hanna começou a escurecer quando, um mês antes de se casar, uma mulher, chamada Melisse, seduziu seu noivo, fazendo-o desistir do casamento. Um ano depois, sua irmã foi atropelada por um motorista bêbado e ficou paraplégica, enquanto o homem, por ser um advogado, escapou da condenação. Três meses depois, Hanna foi acusada injustamente de vender drogas, pois seu primo era viciado, e, para não ser preso, incriminou-a.
                  Mas agora, depois de cinco anos, ela estava livre...cinco anos que deixaram uma marca eterna de sofrimento. Hanna se tornou fria e, às vezes, sádica.
                  Ela dirigiu até uma lanchonete, pois mesmo toda aquela chuva não lhe obrigava a cozinhar alguma coisa para comer. Comprou um hamburguer qualquer e se sentou. Era um lugar lotado e barulhento, mas ela não se incomodava, afinal precisava de alguma coisa que a fizesse lembrar de que ainda vivia em uma sociedade. A única cadeira vazia que restava era aquela ao seu lado, e, segundos após ela perceber isso, um homem fala ao seu lado:
                  - Se importa se eu sentar aqui? Comer em pé me dá insônia.
                  Depois de pensar por um instante, responde:
                  - Claro que não. Pode sentar.
                  - Ah, obrigado! Prometo que não incomodo.
                  - Não se preocupe.
                  O homem percebeu que ela não queria conversar, mas tirou seus óculos escuros e estendeu a mão:
                  - Meu nome é Joshamee. Prazer.
                  Mesmo sem nenhum interesse em falar, ela retribuiu:
                  - Eu sou Hanna. Prazer.
                  - É um nome bonito!...Mas, por quê essa tristeza?
                  Hanna ficou surpresa, será que sua dor estava tão evidente? Então, ao olhar diretamente nos olhos do homem, notou uma coisa realmente intrigante: seus olhos eram de um azul cristal claríssimo, quase brancos.
Depois de um tempo, respondeu:
                 - Não sei do que está falando.
                 - Tanta mágoa reprimida está lhe destruindo por dentro. Eu vejo isso.
                 - É uma história e tanto.
                 - Eu tenho tempo.
                 Então, Hanna começou a contar suas desventuras, enquanto Joshamee parecia fascinado e aflito com a história. Depois de se despedirem, os dois tomaram seus respectivos caminhos, e, ao chegar no seu apartamento, ela percebeu que não conversava com uma pessoa há muito tempo. Talvez aquela conversa tenha feito bem à ela, mas não era o bastante para tirar o gosto amargo do passado.

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