quarta-feira, 23 de maio de 2012

(conto) A Estrada Comum

Escuro. Depois do estrondo de um tiro, uma dor dilacerante no peito e uma queda surda no rio, James contemplava o escuro, um vazio infinito. "Estou morto?", pensava. "O que acontece agora?". Era uma sensação que ele não poderia explicar. Depois de muito tempo flutuando na própria mente, ele sentiu um toque profundo no peito, puxando-o para a superfície de algum abismo. 
James acordou nas margens de um córrego, devia estar em algum lugar de New Jersey, onde morava. Caminhou um pouco e achou uma estrada. Ele não entendeu bem o que havia acontecido, parecia que esteve inconsciente por dias, mas não haviam se passado nem cinco minutos. Esperando que algum carro passasse por ali, James viu uma mulher solitária caminhando em sua direção. Aparentando ter trinta e poucos anos, ela usava um moletom preto largo, uma calça e um coturno da mesma cor. Um raio de esperança nasceu nele: "Finalmente, alguém que pode me ajudar!". A moça estava quase perto dele quando, ao vê-lo, ela abriu um leve sorriso:
- Finalmente eu te encontrei!
James ficou ainda mais aliviado:
- Ah, que bom que a minha mulher mandou me procurar! Você é policial?
- Na verdade, James, sua mulher jamais ia querer que eu te encontrasse. 
- O quê? Como assim? 
A mulher ficou em silêncio por longos instantes. James começava a se sentir mal, o mundo parecia diferente e igual ao mesmo tempo. As árvores pareciam vigiá-lo, os pássaros noturnos pareciam cantar só pra ele. Depois de um breve devaneio, ele pergunta:
- Quem é você?
- Eu tenho muitos nomes, mas você pode me chamar de Meiry. Vamos, vou levá-lo para ver sua mulher.
- Onde estamos? 
- Não importa. Apenas feche os olhos.
- Pra quê?
- Feche.
James obedeceu por uns quatro segundos. Ao abrir os olhos, ele se viu na frente de sua casa. A cada minuto ele ficava mais confuso.
- Como você fez isso?
- Não quer se despedir da sua mulher?
- Clar... Me despedir, por quê?
- Olhe.
A calma de Meiry diante daquela situação bizarra, era o que mais o assustava. Porém, quando olhou para dentro de sua casa, ele ficou boquiaberto. Sua mulher estava beijando um desconhecido e, logo depois, falava com uma adolescente, a quem chamava de filha.
- Não é possível! Minha filha tem nove anos!
- Não é mais, há muito tempo.
- Já chega! Me diga o que está acontecendo, AGORA!
Meiry ainda o olhava com ternura:
- Quer saber um dos meus outros nomes?
- Sim, mas só depois que--
- Morte.
Naquele instante, tudo ficou claro como água para James. De repente, toda a aflição passou, acalmava-se o pulso de um coração que só batia em sua mente. Meiry segurou sua mão gelada e o confortou:
- Você vai poder observá-la sempre.
- Eu sei que ela está bem agora. Eu só queria dizer pra ela que a amo.
- Ela sabe disso.
- Então estou pronto.
- Ninguém nunca está.
- Não há mais nada pra mim aqui. Não importa se estou pronto ou não. Não quero ficar e conhecer minha insanidade, nem fazê-la sofrer. Acho que você é meu novo amor.
- Seu e de quantas almas precisarem.

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